Na verdade, até reconheço que somos ensinados a mentir desde crianças, muitas vezes pelos nossos próprios pais, que também não podem ser culpados, pois nem conseguem reparar que estão mentindo. Quem não se lembra de mamãe algum dia ter lhe dito, ao toque de um telefone em hora imprópria “Diga que não estou ...”. Quantas vezes fomos obrigados a dar “beijos mentirosos” quando éramos crianças, ou até mesmo pedir “desculpas mentirosas”.
Não, não estou falando desse tipo de mentira, mas daquele em que a pessoa mente de graça, faz da mentira seu modus vivendi. Essas pessoas são a própria mentira. Seu caráter inescrupuloso as leva a acreditar que são muito espertas. Há um incansável desafio em atingir o objetivo que é simplesmente constatar que conseguiu enganar alguém. A cara de bunda que fazem quando lhes apresentamos as provas de sua mentira levam-nos a acreditar que se trata realmente de uma personalidade psicopata ou até mesmo esquizofrênica, pois essas pessoas realmente perdem o contato com a realidade.
Elas não seriam tão nocivas se todos nós soubéssemos identificar com rapidez seu verdadeiro caráter (ou falta de). Por outro lado, quando chegamos a conviver com alguma delas, não podemos culpá-las por nossas decepções ou sofrimento, pois alguém já disse que quando alguém nos engana a primeira vez, a culpa não é nossa, porém, quando alguém nos engana a segunda, a culpa é nossa. Concordo plenamente com essa afirmação.
Por já ter tido a oportunidade de conviver e conhecer muito bem essas pessoas, tenho muita prática em identificá-las. E sinto pena delas. Não têm uma vida própria, pois vivem sempre alguma vida inventada. E nunca são amadas pelo que são, mas pela imagem que tentam passar (e que conseguem muitas vezes). Mas, como toda mentira não consegue ter pernas longas, há uma fila enorme de desafetos em sua vida. Normalmente, em sua velhice terminam sozinhas ou com alguém que delas se compadecem.
Vale lembrar que a mentira muitas vezes não é dita; é exercida através de silêncios, omissões. Fazer uma pessoa acreditar numa situação ilusória também é uma mentira. Por isso, digo que não tenho pena de quem é enganado, mas tenho pena, sim, de quem engana. O enganado é apenas um bobo, mas quem engana é um doente. Bobeira, é opcional. Doença, não.
Sueli Benko